Como tantos moleques dos anos 1980 e 1990, passei boa parte dos feriados e fins de semana no banco traseiro de um carro, indo de uma cidade a outra para encontrar a família ou simplesmente algo para fazer. Por sorte aprendi a ler cedo e nunca tive problemas em ler dentro do carro em movimento, mas às vezes os gibis e livros ficavam entediantes e eu acabava mesmo prestando atenção na estrada.
E da mesma forma que tantos moleques que cresceram viajando de carro (ou caminhão, em alguns casos), é nessas horas que começamos a reparar nos códigos da estrada, aqueles sinais de luz e gestos que os motoristas tradicionalmente usam para se comunicar. Curiosamente, quando finalmente comecei a dirigir, já nos anos 2000, estes códigos pareciam ser menos utilizados (os lampejos frenéticos de luz alta e buzinaços contínuos são mais comuns), mas eles ainda são utilizados por motoristas experientes e merecem ser divulgados para que sejam universalmente conhecidos.
Para não confiar apenas na minha memória, descolei este recorte da coleção Shell Responde, que eram uns livretos de oito páginas distribuídos nos postos da rede no início dos anos 1990 (e que poderiam ser reeditados pelo FlatOut, não é mesmo, Shell?) com informações sobre segurança viária, dicas de condução, mecânica e conhecimentos gerais sobre carros e cultura automotiva — qualquer dia publico aqui a coleção completa, que foi digitalizada e cedida pelo leitor Henrique Hilgemberg. Veja só:
Alguns códigos caíram em desuso, mas boa parte ainda é usada exatamente como na época. Os códigos mais comuns até hoje são os seguintes:
Carro à frente liga seta para a direita: indica que a pista está livre para a ultrapassagem. Por estar ajudando, ele também provavelmente irá reduzir a velocidade e abrir passagem se possível.
Carro à frente liga seta para a esquerda: indica que não há condição de ultrapassagem, seja por veículo no sentido oposto ou condições da via.
Carro no sentido oposto pisca a luz alta duas vezes: indica que há algo na pista adiante que exige atenção, seja fiscalização, um acidente, objetos ou obstrução da pista. Normalmente quando há uma obstrução na via o sinal de luz é acompanhado por um gesto com as mãos, normalmente um movimento para cima e para baixo sugerindo redução de velocidade, ou horizontal sobre o painel, sugerindo que há algo atravessado na pista.
Carro no sentido contrário pisca a luz alta e apontando dois ou quatro dedos: indica que há animais ou pedestres na pista — os dedos são uma analogia às pernas/patas.
Buzinar brevemente duas vezes: agradecimento.
Os sinais indicados acima que não são muito comuns hoje em dia são o pisca alternado para esquerda e direita para avisar que há um caminhão em sentido contrário — hoje isso significa que o sujeito está te chamando para um racha, embora alguns usem como forma de agradecimento — e o sinal dos toques breves no freio, que era mais usado por motoristas de caminhão para avisar outros caminhoneiros que o seguiam, assim eles teriam tempo e espaço para reduzir a velocidade suavemente ou fazer uma ultrapassagem. Os toques breves no freio também não são mais recomendados porque podem confundir o motorista que vem atrás. Se a sua intenção é alertar o motorista de trás que você pretende frear, pressione o pedal levemente, mas não o solte. Isso será suficiente para acender as luzes de freio sem desacelerar bruscamente o carro, alertando o motorista de trás de que você vai mesmo parar, e não apenas ajustar a velocidade com uns toques breves.
Há outros códigos ou sinais que não estão na imagem acima, mas que são comuns nas estradas. Como por exemplo:
Carro de trás pisca o farol alto uma ou duas vezes: indica a intenção de ultrapassar, e deve ser usado com a seta ligada para a esquerda.
Carro à frente ou em sentido transversal pisca o farol alto brevemente uma vez: indica que o motorista está cedendo a passagem.
Motorista à frente com o braço para fora do carro com a mão aberta em posição baixa: alerta para reduzir a velocidade devido a algum problema adiante. Não ultrapasse o carro à frente antes de se certificar do que há adiante. Aqui é importante lembrar de que existem os sinais de braço para mudança de direção, que podem ser usados em substituição às setas — braço esquerdo esticado indica intenção de virar à esquerda; braço esquerdo dobrado 90 graus indica intenção de virar à direita.
Carro de trás pisca o farol alto de forma intermitente com breves toques na buzina: é um código usado em situações de emergência. Pode ser que o carro de trás esteja com algum problema mecânico como perda de freios ou algum comando do carro, ou então que há algo errado com o seu carro. Também é usado para pedir passagem emergencial em pistas simples de mão dupla.
Há quem use o pisca-alerta em situações de emergência, mas isso não é aconselhável pois você perde a função das setas, e deixa de sinalizar suas mudanças de direção. O pisca-alerta, aliás, deve ser usado somente com o carro imobilizado ou em casos de parada/frenagem emergencial. Nessas situações você também não deve ultrapassar o carro sem se certificar de que há condições seguras adiante.
Estes são os códigos mais conhecidos e utilizados corriqueiramente nas estradas. Se você conhece algum que ficou de fora, por favor, compartilhe conosco nos comentários.