Não sei quanto a vocês, mas eu não gosto muito da ideia de comprar uma roda de liga leve de origem desconhecida. E nem me refiro às réplicas, mas àquelas marcas que surgem de repente e, em uns poucos anos, desaparecem sem ninguém perceber. Onde elas foram feitas? Quem especificou a liga metálica? Quais os testes de resistência? Quem as certificou? Roda é um negócio importante demais. É como a mãe do seu filho, não dá pra escolher qualquer uma.
Por isso, sempre que desejo trocar as rodas do meu carro, recorro ao catálogo da marca. Foi assim com o Classe A, foi assim com o Focus e foi assim com o Classe A. Roda OEM (equipamento original do fabricante, na sigla em inglês) é a melhor roda que você pode comprar, porque elas são baratas e têm um padrão de qualidade elevadíssimo, como o MAO já explicou aqui. O risco de ter uma liga metálica Su-Fl-Ai-R ou de acabar com quatro bigornas nas pontas dos eixos é nulo. Bem, a menos que você compre as rodas do Vectra GT-X. Mas isso é outra conversa.
O problema desse negócio de usar rodas do catálogo original que você fica limitado à oferta e ao humor das fabricantes na época da fabricação do carro. Veja o Focus, por exemplo: ele só pode usar rodas no padrão 4×108, o que me impede de usar rodas do Fusion e dos Focus mais novos. Como no Brasil a Ford só ofereceu rodas de 16 polegadas com o padrão 4×108 no Focus XR, no “New” Fiesta e no EcoSport de segunda geração, minha lista se limitou a três ou quatro modelos. Felizmente eles acertaram em cheio nas rodas do New Fiesta Titanium, que foi a minha escolha.
O pior caso, na minha modesta opinião, é o da GM/Opel. Por algum motivo incompreensível (custo, certo?), a GM/Opel conseguiu usar padrões diferentes em um mesmo carro. Já notou que as rodas do Astra GL, do Vectra GL/GLS e do Vectra GT usam quatro parafusos, enquanto Astra GLS, Vectra CD e Vectra GT-X usam rodas de cinco furos? E tem mais: as rodas do GT-X, completando o papo, pesam quase 20 kg cada. Ou seja: além de serem pesadas, você não consegue trocar por outra da linha original.
Algumas fabricantes, contudo, parecem perceber a importância do intercâmbio de peças entre modelos, mantendo sempre um padrão através das gerações. Isso é bem comum com as fabricantes alemãs, especialmente BMW e Mercedes, que usam sempre os padrões 5×120 e 5×112, respectivamente. Audi e Volkswagen já têm o “problema” de alternar entre quatro e cinco furos. E a Audi, em especial, já usou 4×108, 5×108, 5×112 e 5×110. Então não é algo muito simples, caso você tenha o carro errado.
No Brasil, ao menos, a Volkswagen foi mais sensata. Não apenas manteve um padrão para toda a sua linha — do Polo ao Santana/Passat — ao longo dos anos 1970, 1980 e 1990, como também dedicou um bom tempo a aprovar os melhores desenhos possíveis. Praticamente todas as rodas de liga leve lançadas pela fabricante são intercambiáveis entre os modelos clássicos e, mesmo as rodas mais modernas que mantiveram o padrão de quatro parafusos, são compatíveis com os modelos clássicos da marca — exceto, claro, os modelos derivados do Fusca.
Não por acaso a marca se tornou a mais popular para preparação e personalização. Sempre foi muito fácil comprar um Gol 1987 ou uma Parati 1992 e instalar qualquer roda da marca que estivesse disponível e compatível com o gosto do proprietário. Também por isso elas se tornaram verdadeiros ícones. Um Volkswagen “quadrado” com roda “Orbital” é um clichê previsível e, hoje, pouco interessante. Mas, goste ou não, é inegável que esta combinação se tornou um ícone nacional como um Maverick com rodas “Palito” ou um Opala com rodas “Cruz de Malta”.
Apesar de serem ícones nacionais, somente as rodas “Orbital” são verdadeiramente brasileiras — ao menos na produção em série. As demais rodas clássicas da Volkswagen vêm todas da Europa, e a mais antiga delas já completou 50 anos e foi usada até mesmo pela Audi. Estou falando da famosa…
12 Spoke (ou 12 raios)
No Brasil esta roda deu as caras em 1982 no Gol Copa, depois foi usada no Passat GLS e nos Voyage Plus e GLS em 1983. Em 1984 chegou à Parati Plus, ao Voyage Los Angeles, e aos Passat GTS e Village, além de ser oferecida como opcional na linha Gol/Parati/Voyage/Saveiro.
Sua origem contudo, é um pouco mais antiga: ela foi a primeira roda de liga leve da Volkswagen e deu as caras em 1972 quando o Audi 80 foi lançado na Europa.
No ano seguinte, quando o Scirocco foi apresentado no Salão de Genebra, ele estava calçado com as mesmas rodas. Em 1974 foi a vez do Golf recebê-las e, em 1979, o recém-lançado Jetta também tinha as 12 Spoke em seu catálogo.
Quando esta roda foi projetada exatamente é algo difícil de dizer. Atualmente a Volkswagen mantém em seu museu um exemplar do protótipo EA276, de 1969 (abaixo), com um jogo destas rodas, mas não há um registro público de quando o modelo foi equipado com elas. O que sabemos é que seu mock-up de 1968 (ao lado) usava rodas de aço com calotas convexas como as do Fusca da época. Portanto, é seguro afirmar que elas foram desenvolvidas entre 1968 e 1972.
Em todas as suas aplicações, tanto no Audi 80 quanto no Gol Copa e derivados, ela tinha 13 polegadas de diâmetro, tala de 5,5 polegadas, padrão de furação 4×100 e offset 45.
9 Spoke
Velha conhecida dos Volkswagen brasileiros, a roda 9 Spoke é conhecida tanto aqui quanto lá fora como “Tarantula” por ter seus raios (spokes) curvados como as patas da aranha de mesmo nome.
Foi usada pela primeira vez em 1981 no Scirocco de segunda geração, e nos Golf e Jetta Mk1 a partir daquele ano. Em 1982 chegou ao Polo de segunda geração, recém-lançado. Na prática, ela substituiu a 12 Spoke nos modelos esportivos ao longo da primeira metade dos anos 1980 na Europa e EUA.
Ao Brasil ela chegou em 1987 equipando as versões GL de Gol, Voyage, Saveiro e Parati. Nenhum outro modelo da linha Volkswagen brasileira foi equipado com este modelo, que foi usado até 1993. Na Europa, ele deixou de ser usado em 1985. Como sua antecessora, a 9 Spoke foi fabricada somente com as medidas 13×5,5, porém com offset 38.
Avus
Um verdadeiro ícone da Volkswagen, a roda Avus só deu as caras em 1983, quando a Volkswagen lançou uma série especial para comemorar a produção de 600.000 exemplares do Scirocco. O modelo ganhou a Wolfsburg Edition na Europa e a California Edition na América do Norte. As duas eram sutilmente diferentes, mas ambas tinham as mesmas rodas que acabariam conhecidas como Snowflake, por sua semelhança com um floco de neve.
Isso explica por que o primeiro Passat GTS Pointer não foi equipado com elas, e sim com a 12 Spoke. Elas chegaram ao Brasil rapidamente, sendo lançadas em 1984 no Passat GTS Pointer, no Gol GT e no Santana CD. Os três modelos foram os únicos a usar estas rodas no Brasil, embora o Santana a tenha usado nas versões especiais Santana do Mês e Santana Sport.
Foi a primeira roda de 14 polegadas da Volkswagen e também uma das mais duradouras: no Brasil ela deixou de ser usada em 1990, quando o Santana Sport saiu de linha, mas na Europa e EUA ela continuou até o fim da produção do Golf Cabriolet de primeira geração, em 1992, o que significa que ela permaneceu no catálogo por nove anos. Em todas as aplicações ela media 14 polegadas de diâmetro, tinha tala de seis polegadas, furacão 4×100 e offset 38.
Turbine/Multispoke
Conhecida no Brasil como “Raio de Sol”, esta roda estreou por aqui com o Santana em 1984 e foi usada até 1991 pela Parati GLS. A roda foi lançada no mesmo ano na Europa, equipando a segunda geração do Passat (o nosso Santana), a segunda geração do Scirocco, do Polo e do Golf/Jetta.
No Santana elas foram usadas até 1987 — as atualizações da linha 1988 trouxeram novas rodas para o sedã. Com a mudança, o Voyage e a Parati passaram a usar estas rodas na versão GLS — o Voyage de 1987 a 1990 e a Parati de 1988 a 1991.
Infelizmente a Volkswagen parece ter esquecido seu arquivo de protótipos e conceitos do fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, então não há uma origem muito clara desta roda. Contudo, como ela apareceu no facelift de meia-vida do Passat B2, é provável que ela tenha sido desenvolvida entre 1981 e 1983.
Em todas as aplicações ela mede 13×5,5, usa furação 4×100 e offset 38.
Silverstone
Outro modelo de roda que não demorou para chegar ao Brasil foi a Silverstone, popularmente conhecida como “Pingo d’Água”. Ela foi lançada em 1986 para o Scirocco 16v e logo no ano seguinte, quando passou a ser oferecida na linha Golf e Jetta, chegou ao Brasil para equipar o Gol GTS. Em 1988, o Gol GTi passou a usá-las e, em 1993, a Parati GLS ganhou um ar mais esportivo com elas.
A versão brasileira era diferente das europeias, conhecidas como “Teardrop” (lágrima em inglês), pois tinha a cauda da gota pintada de preto, enquanto na Europa elas eram integralmente da mesma cor ou tinham a cauda de cores variadas, contrastando com a pintura cinza da roda.
No Brasil ela foi oferecida até 1990. Quando a Volkswagen aplicou o último facelift à primeira geração do Gol, os dois modelos passaram a usar um modelo exclusivo do Brasil, que veremos mais adiante. Na Europa, a Silverstone seguiu até 1992, quando o Golf Cabriolet foi substituído pela nova geração.
Todas as Silverstone medem 14×6, têm furação 4×100 e offset 38.
Hockenheim
Se você leu com atenção até aqui, lembra que o Santana ganhou novas rodas a partir da linha 1988, certo? Pois estas novas rodas eram as Hockenheim, lançadas na Europa em 1986 para o Polo GT e G40, o Golf Mk2, o Golf Cabriolet, o Scirocco e o Jetta Mk2.
Curiosamente, foi o modelo de entrada que mais fez uso delas na Europa. É mais comum encontrar um Polo de segunda geração equipado com as Hockenheim do que um Golf ou um Jetta. “Curiosamente”, porque no Brasil elas foram escolhidas para o Santana, o modelo de topo da Volkswagen — na Europa, inclusive.
Como foram usadas apenas no Santana e em uma série especial do Voyage (o Voyage Special) por aqui, elas duraram somente três anos — de 1988 a 1990 e, brevemente, em 1992).
Também não fizeram muito sucesso para personalização porque foram oferecidas apenas nas medidas 13×5,5 polegadas (com offset 38, como a maioria desta geração), as mesmas das rodas de aço e de liga leve que já eram oferecidas nos modelos mais baratos da Volkswagen. Lá fora elas deixaram de ser usadas em um ano antes, depois que o Polo foi reestilizado em 1990.
Zandvoort
Uma das rodas mais interessantes da Volkswagen, a Zandvoort demorou para chegar ao Brasil. Ela só deu as caras na década de 1990, depois do facelift promovido pela Volkswagen para a família Gol em 1991. Lá fora, Golf, Scirocco e Jetta usaram estas rodas a partir de 1986 até 1994. O Passat B4 também usou uma versão destas rodas, porém com 14 polegadas (elas foram oferecidas no Brasil nos Passat 2.0).
Isso significa que o Gol GL, o Voyage GL e a Parati GLS desse período até estavam bem alinhados com os primos europeus — ao menos quando se tratava das rodas. Como a Volkswagen simplificou a oferta da linha “quadrada” a partir de 1993, elas foram usadas somente nestes três anos no Brasil. Elas também foram oferecidas em duas configurações: com e sem as calotas centrais. Tanto na Europa quanto no Brasil elas mediam 13×6 polegadas, com offset 38. As mais novas, do Passat, medem 14×6, também com offset 38.
Acapulco
Enfim, chegamos ao modelo mais popular e que mais causa reações dos fãs (e não-fãs) da Volkswagen: as rodas Acapulco. Elas foram usadas somente no Brasil e nós as conhecemos atualmente como Orbital. Mas nem sempre foi assim.
Estas rodas apareceram pela primeira vez em um conceito de 1989 chamado Futura, que foi trazido ao Salão do Automóvel de 1990. Curiosamente, estas rodas não estavam na versão original do conceito, apresentado no Salão de Genebra de 1989, com outra combinação de cores. Elas, aparentemente, foram criadas para a versão de 1990 do conceito, e logo em 1991 entraram em produção no Brasil para equipar os esportivos Gol GTS e Gol GTi.
Por esta razão, elas acabaram conhecidas inicialmente como “Futura”, mas, naquele mesmo 1991, a Volkswagen apresentou um outro conceito que repetiu as rodas do Futura 1990, um sedã/coupê chamado Orbit. Por isso elas também acabaram apelidadas de “Orbit”. O nome “Orbital” foi uma derivação deste segundo apelido das rodas.
Apesar de ser oferecido em diversos tamanhos, medidas e padrões, as rodas Acapulco originais só existiram nas medidas 14×6, com offset 38, e equiparam a dupla de esportivos de 1991 a 1994 como item de série. As rodas BBS RS eram opcionais nos dois modelos.