A segunda geração do Plymouth Barracuda foi apresentada em 1970, mesmo ano em que o Dodge Challenger — e utilizava a mesma plataforma e alguns componentes da carroceria emprestados do primo. Sua primeira geração, que foi lançada em 1964 conviveu com o Mustang, era um cupê fastback baseado no Plymouth Valiant, mas nunca conseguiu o mesmo sucesso que rival da Ford. Talvez tenha sido porque o primeiro Barracuda tinha um visual meio careta e motores não tão potentes quanto os do primeiro pony car.
No entanto, a segunda geração do Barracuda se tornou um verdadeiro clássico. Produzido até 1974, o novo modelo era maior, mais bonito e mais potente — além de ter um apelo verdadeiramente especial aos que queriam um esportivo compacto, graças à sua versão esportiva ‘Cuda. Claro, havia ainda a versão básica (BH) e a luxuosa Gran Coupe, mas era no ‘Cuda que todos estavam interessados.
Dá para entender o motivo
Boa parte disto se deve, claro, ao V8 Hemi 426 de 360 cv (líquidos, ou 425 cv brutos) que podia ser escolhido pelo dono. Foi tudo de caso pensado: pensando em vencer corridas com o ‘Cuda para melhorar suas vendas, a Chrysler escolheu sua melhor plataforma e fez questão de fazer um cofre com espaço para qualquer motor disponível em sua prateleira. Não é à toa que uma de suas versões mais incríveis é o ‘Cuda AAR, versão de homologação para a Trans-Am.
No entanto, um fato curioso sobre o ‘Cuda é que suas versões conversíveis são especialmente apreciadas por colecionadores. Tanto que dois exemplares em um evento que acontecerá entre os dias 15 e 24 de janeiro de 2016. A soma levantada pelos dois carros pode chegar ao equivalente a mais de R$ 24 milhões. Vinte e quatro milhões de reais por dois muscle cars — por aí você vê o quanto eles são especiais.
São dois Plymouth Hemi ‘Cuda conversíveis, um deles fabricado em 1970 e o outro, em 1971. Estamos falando de uma época quando era possível comprar um carro e escolher os opcionais exatamente do seu jeito. Na prática, cada carro era único. E, no caso do Hemi ‘Cuda conversível, isto significa exclusividade ainda maior: os dois carros estão entre os mais raros em seus anos de fabricação.
Ambos são equipados com o mesmo motor — o Hemi 426 equipado com dois carburadores de corpo quádruplo, que por si já era um opcional raro. Se formos contar, então, apenas os carros conversíveis equipados com este motor, a raridade chega a assustar. Considerando que ambos têm quilometragem relativamente baixa, são equipados com outros opcionais interessantes e estão simplesmente impecáveis, dá para entender o tamanho do cifrão.
O primeiro é este Hemi ‘Cuda conversível amarelo “Lemon Twist”, fabricado em 1970. Ele tem apenas 27.500 milhas (pouco mais de 44.000 km) rodados e, além de ser um carro bastante exclusivo por natureza, traz uma série de opcionais que hoje são muito valorizados pelos entusiastas — você sabe como fãs de muscle cars costumam saber detalhes absurdamente específicos sobre seus carros favoritos, não é?
Pois bem: este carro tem o famoso shaker hood, um scoop fixo diretamente ao filtro de ar, que se projeta para fora do capô para captar ar fresco e e vibra com o funcionamento do V8 em marcha lenta; câmbio manual de quatro marchas (apenas cinco exemplares equipados com motor Hemi e câmbio manual foram fabricados em 1970) e o Super Track Pack A34, que incluia um indestrutível diferencial Dana 60 com relação final de 4,10:1, radiador maior, ventoinha com sete pás e freios a disco na dianteira.
A carroceria amarela traz faixas pretas e a inscrição “HEMI” nos para-lamas traseiros, as rodas são pintadas na mesma cor e o interior é forrado de vinil preto, mesmo material da capota. A alavanca de câmbio é a clássica Hurst Pistol Grip e o painel é do tipo Rallye, com quatro instrumentos do mesmo tamanho, velocímetro de 150 mph (240 km/h), acabamento de madeira e bancos ajustáveis.
O carro foi fabricado em 1970 e enviado para o Canadá onde, segundo consta, um pai o deu de presente à filha depois da formatura. Em 1999, ele foi comprado por um colecionador chamado Harold Sullivan, que em 2003 enviou o carro para ser restaurado diretamente pela Mopar — a carroceria e o interior foram recuperados, o que não deu muito trabalho, e o motor foi refeito. Todo o histórico do carro está perfeitamente documentado.
Agora, se o Hemi ‘Cuda 1970 amarelo impressiona por todos os opcionais que tem, o outro carro — este ‘Cuda branco 1971 — chama a atenção por algumas coisas que não tem.
De acordo com a Mecum, seu proprietário queria algo mais discreto (algo pelo que o ‘Cuda nunca foi conhecido) e por isso, na hora de comprá-lo, decidiu que o carro não teria faixas laterais. Grade e rodas são pintadas no mesmo tom de branco “Sno-White”. A transmissão é a automática TorqueFlite de três marchas, e a combinação de motor Hemi e câmbio TorqueFlite só apareceu em cinco unidades de 1971. O diferencial de 8,5” traz relação final de 3,55:1.
Por dentro, a discrição continua: o interior todo preto traz instrumentos do tipo T/A (com um grande velocímetro de 120 mph, ou 190 km/h), nenhum console central e bancos separados, de vinil preto — e só.
O carro foi comprado em 1977 e seu primeiro proprietário ficou com ele até 2003. Antes disso, ele começou a restaurá-lo, mas decidiu vendê-lo ainda na fase inicial do projeto. Então, o carro foi parar nas mãos de Julius Steuer, da Restorations by Julius, na Califórnia, especializada em Mopar. O processo levou mais de um ano e o carro, que tem 30.900 milhas (pouco menos de 50 mil km) no hodômetro, parece novo.
Com o ‘Cuda amarelo 1970, a Mecum espera arrecadar algo entre US$ 2,75 e 3,5 milhões (R$ 10,6-13,5 milhões). Já com o exemplar branco, que é um dos últimos com motor Hemi a sair da fábrica da Plymouth, algo entre R$ 2,25 e 2,75 milhões (R$ 8,7-10,6 milhões). Ou seja: considerando o valor mais alto, ambos os carros podem sair por nada menos que US$ 6,25 milhões, ou cerca de R$ 24,1 milhões. Alguém aí vai encarar?