As subidas de montanha são uma categoria extremamente popular na Europa – há categorias para todo tipo de carro, dos protótipos feitos especialmente para hillclimb quanto aos carros populares baratos que, justamente por serem populares e baratos, costumam ser aliviados e modificados sem dó para competir, conduzidos por pilotos profissionais e amadores.
O alemão Franz Koob é um destes amadores – o que não significa que ele não seja experiente ou habilidoso. Até porque Koob já é um senhor de cabelos brancos que deve ter pilotado muitos bólidos de subida de montanha na vida e, hoje em dia, tem na frota de sua equipe, a Koob Motorsport, um dos Fiat Uno mais selvagens que já vimos. Se liga:
O ronco do motor reverbera entre as árvores e o pequeno hatchback vermelho e verde aparece disparado pelo asfalto sinuoso de alguma cidadezinha alemã – o vídeo foi gravado durante uma das etapas da Berg Cup, campeonato de subida de montanha realizado todos os anos na Alemanha que passa por diversas estradas do interior germânico. Nada muito diferente do que se faz na Itália, como já vimos algumas vezes. E, na verdade, o Uno é um dos automóveis favoritos dos praticantes da modalidade na Alemanha, por razões simples: é um carro leve, com entre-eixos curto e eixos posicionados bem próximos às extremidades, fácil de encontrar e cheio de receitas de preparação na Europa.
Foto: Koob Motorsport
O Uno da Koob Motorsport é equipado com um quatro-cilindros naturalmente aspirado preparado pela Dallara – sim, a mesma Dallara que é responsável pelos monopostos da Fórmula Indy, e que já projetou carros para a Fórmula 1. Em 1975, a Dallara escolheu o Fiat X1/9, esportivo compacto de motor central-traseiro, para participar de corrida de turismo seguindo o regulamento do Grupo 5 da FIA. Além de modificar a carroceria com para-lamas mais largos, a Dallara dava ao X1/9 um motor 1.6 Sevel com cabeçote de 16v projetado in house, capaz de girar a mais de 9.000 rpm e produzir mais de 200 cv.
Foto: Koob Motorsport
É um destes motores que equipa o carro de Franz Koob. Graças a modificações no comando de válvulas, virabrequim, pistões e bielas – além da instalação de corpos de borboleta individuais (individual thottle bodies, ou simplesmente ITB), que permitem que o motor respire muito melhor ao sugar o ar direto da fonte – o motor gira tranquilamente a mais de 9.000 rpm e, graças ao sistema de escape dimensionado Schäfer, o ronco produzido é alto, rouco e estridente. Gostamos.
O motor é alimentado por um sistema de injeção Suzuki, e acoplado a uma caixa sequencial Bacci, de seis marchas, que leva a força do motor para as rodas dianteiras através de um diferencial com autoblocante. A suspensão foi completamente refeita, com amortecedores ajustáves H & R. Os freios são da Wilwood, abrigados sob rodas de 15×8 polegadas – responsáveis por um belo aumento nas bitolas dianteira e traseira.
Fotos: Koob Motorsport
Com isto, a relação entre o entre-eixos, a altura e a largura do Uno melhora bastante, reduzindo a transferência lateral de peso nas curvas, aumentando o grip e criando um carro muito estável e veloz nas subidas de montanha. A dinâmica do Uno está acertadíssima, sem apelar para saídas de traseira monstruosas – até porque o negócio aqui não é dar um show de derrapagens controladas, por mais bacanas que elas sejam.
O interior aliviado, apenas com um painel de instrumentos feito sob medida, gaiola de proteção certificada pela FIA, um banco do tipo concha e os comandos pra o piloto, torna este Uno ainda mais leve: são só 760 kg para 225 cv, ou 3,3 kg/cv.
Por mais que as piadas sobre o Fiat Uno e a escada no teto já estejam cansadas, este carro ajuda a nos lembrar por que elas existem: a “botinha ortopédica” tem potencial. Basta saber o que fazer com ela.