Faz mais de vinte anos, mas a cena me marcou até hoje. No jornal das oito, em uma matéria sobre acidentes nas rodovias, o câmera flagrou um quase-acidente frontal entre um Omega e um Palio que invadiu a contramão. Não fosse o reflexo do motorista do Omega, uma tragédia teria acontecido. Mas fiquei mais impressionado com o que veio depois do desvio. A pendulada, causado tanto pela inércia quanto pela roda traseira passando pela grama, e o controle que o motorista conseguiu ter do veículo.
A primeira coisa que pensei é o que penso até hoje. Se nosso processo de formação de condutores fosse realmente sério, manobras evasivas como essa seriam obrigatórias. Na prática, soltamos motoristas despreparados para salvar a sua vida e a de terceiros em uma situação que é mais cotidiana do que gostaríamos – ainda mais hoje, com toda a distração que os smartphones trazem, tanto para pedestres atravessando a rua quanto para motoristas olhando suas próprias telas.
De todas as coisas que o motorista pode fazer atrás do volante, o desvio emergencial é o teste mais brutal e potencialmente violento que pode acontecer. Seja um cão, uma criança, uma moto ou um veículo que cruze o seu caminho, o desafio é o mesmo. Ele exige reflexos e instinto de sobrevivência e, décimos de segundo depois, controle e maturidade para segurar o pêndulo e preservar a estabilidade direcional do veículo.
Felizmente, nossa parceira Continental gostou bastante da ideia de ensinarmos como fazer um desvio de emergência e é o que vocês irão conferir abaixo. É um serviço de utilidade pública a todos os motoristas, por isso, sinta-se à vontade para compartilhar com colegas, parentes e amigos. Nele, eu explico de forma didática as técnicas ao volante e os detalhes das três etapas que formam um desvio emergencial – e o principal, como controlar a pendulada causada pela inércia no momento seguinte ao desvio.
Note que o desvio emergencial é consequência de um julgamento instantâneo do motorista, que conclui que não haverá tempo e distância para evitar a colisão apenas freando – e por isso, a manobra evasiva se faz necessária. Já no vídeo abaixo, eu e o Ricardo R37 explicamos (e testamos) diversas técnicas de frenagem para mostrar as formas corretas – com e sem ABS.
O automobilismo e o mundo real possuem muito mais conexões que o senso comum acostumado a tratar as competições como hobby inútil aponta. A técnica perfeita de frenagem nas pistas é aquela que pode salvar uma vida em uma frenagem de 100 km/h a zero necessária em uma situação extrema. A técnica de controle de sobre-esterço e de criar instantaneamente um traçado para ter o melhor balanço entre frenagem e aceleração lateral – tudo o que usamos nas pistas – é o que um motorista treinado vai usar para fazer um desvio emergencial bem realizado. Acredito que não haja uma técnica sequer utilizada nos autódromos que não prepare melhor o motorista para situações de direção defensiva.